Os últimos protestos – de março para cá foram seis - que bloquearam BRs e avenidas apresentam semelhança em sua bem planejada organização. E não é a toa. Por trás deles há uma figura: Severino Souto Alves,que fundou um sindicato para vendedores ambulantes, mas que também atua promovendo protestos em benefício de outras “categorias”, como os sem teto e estudantes, por exemplo. Nesta reportagem, a Folha de Pernambuco desvenda essa figura que vem liderando uma parcela dos ambulantes e provocando prejuízos às empresas, comércio, instituições diversas e ao cidadão comum, afetado no seu direito de ir e vir.
Após acompanhar os diversos protestos no Grande Recife, a reportagem da Folha de Pernambucopercebeu a presença constante de um articulador. Ele foi visto em várias manifestações, sempre na liderança dos movimentos. Trata-se de Severino Souto Alves, um jovem de 29 anos, recifense, morador da Várzea, casado, que se diz ex-estudante de Direto, detentor de uma barraca na UFPE e presidente do Sindicato dos Trabalhadores Ambulantes do Comércio Informal do Recife (Sintraci), entidade criada há menos de dois anos. Ele é o homem por trás da maioria das manifestações que têm travado a Capital, causando transtornos a milhares de recifenses e mobilizando contingentes de policiais e bombeiros, que acabam desviados de suas atribuições de rotina para, literalmente, apagar os incêndios provocados por Alves.
À Folha ele contou que seu trabalho hoje é herança de uma militância em várias frentes populares que englobam lutas estudantis e rurais. Severino considera que, graças à sua experiência, vem conseguindo dar uma nova “cara” aos protestos. Ele já organizou nove mobilizações desde outubro de 2013 até ontem, somente pelo sindicato que preside. O padrão operacional da entidade, segundo Alves, orienta os simpatizantes das pautas a evitar conflitos com a polícia e quebra-quebras, detalhando as ações ponto a ponto, buscando maior visibilidade na mídia e, principalmente, tentando chamar atenção da Prefeitura do Recife com recursos de impacto. Mas, apesar das tentativas de dar um ar de “civilidade” aos eventos, são grandes os estragos provocados pelo “novo” líder.
Mas, como Severino conseguiu mobilizar trabalhadores e paralisar toda uma cidade? O ex-estudante de Direito tem mostrado grande capacidade de liderança, passível de assumir vários discursos e bandeiras, seja entre ambulantes seja entre outros movimentos com diversos perfis. Um “articulador” profissional, cuja influência entre os ambulantes o fez ser convidado a assumir a presidência do Sindicato, num claro drible ao democrático processo de eleição.
Severino se popularizou entre as frentes trabalhistas, mas também assessorou os estudantes do Movimento Passe Livre, no ano passado, quando participava do Centro Popular de Direitos Humanos. A entidade era comumente vista durante toda a onda de protestos, que foi às ruas do Recife diversas vezes em 2013 pleiteando passagem mais barata e transporte de qualidade. Naquela época, Alves e demais membros do grupo, atuavam prestando apoio jurídico aos jovens detidos em meio às manifestações.
“Eu milito desde os 15 anos. Passei pelo movimento secundarista, quando participei de vários protestos. Depois veio o movimento universitário. Também trabalhei na zona rural, militei por ocupação de terra. E, depois desse processo, vim para a discussão urbana. Com minha experiência, planejamos e orientamos, para que as pautas reverberem, sejam ouvidas, avaliadas e solucionadas”, pontuou. Ele afirma estar há anos na área, trabalhando em um ponto comercial no Hospital das Clínicas. Mas a barraca está fechada há meses, uma vez que o tempo gasto à frente da instituição impossibilita outra ocupação. Como o Sintraci ainda não tem condições de pagar remunerações para a própria diretoria, Severino vive do apoio, incondicional, da esposa dele. “Minha mulher é advogada. A gente tem uma relação de muito companheirismo. Ela é solidária à nossa causa. Então, por enquanto, vamos vivendo assim”, esclareceu.
A voz pausada, as palavras bem articuladas, fruto de uma boa concatenação ideológica, são recursos que ajudam o sindicalista em sua atuação nos protestos. Livres de violência? Talvez, mas certamente prejudiciais ao direito de ir e vir da população.
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