Veículos de comunicação do mundo inteiro - de jornais a sites -
publicaram nesta terça-feira (13) a capa do próximo número do semanário
satírico "Charlie Hebdo", mais uma vez com o profeta Maomé e que chega
amanhã às bancas francesas.
A imagem foi considerada "provocadora" por autoridades do mundo muçulmano.
Nesta última edição, Maomé aparece de roupa e turbante brancos e deixa
correr uma lágrima. Nas mãos, segura o cartaz com a inscrição "Je suis
Charlie" (Eu sou Charlie). Este foi o slogan dos milhões de
manifestantes que foram às ruas na França e em cidades do mundo todo em
repúdio aos ataques em Paris e suas 17 vítimas fatais na semana passada.
Logo acima do profeta, aparece a frase "Tudo está perdoado".
Organizações que representam os entre 3,5 e 5 milhões de muçulmanos
franceses fizeram um apelo pela "calma" e que "se evite reações
emocionais".
Já no exterior, o tom foi de revolta, como no caso do mufti egípcio,
Ibrahim Negm, que classificou de "provocação injustificada para os
sentimentos de 1,5 bilhão de muçulmanos no mundo".
"Denunciamos a violência e respeitamos a liberdade de opinião, mas a
outra parte deve compreender que amamos o profeta Maomé", explicou.
Traduzida para vários idiomas, incluindo o português, o árabe e o turco,
a nova edição terá uma tiragem de 3 milhões de exemplares, contra os
habituais 60 mil. Serão 16 páginas de humor e de homenagem aos mortos da
equipe de redação. Entre eles, estão cinco dos mais importantes
cartunistas franceses. O valor arrecadado com a venda dos exemplares
será destinado às famílias das vítimas.
"Foi por causa de uma charge de Maomé que morreram, é com uma charge de
Maomé que voltarão à vida", escreveu o "Jornal de Negócios" de Portugal,
nesta terça.
Nos veículos muçulmanos, a capa não foi reproduzida, porque o Islã proíbe a representação do profeta.
Em outros países, os jornais que decidiram publicá-la justificaram sua escolha.
"Por um lado, ao publicar essa capa, corremos o risco de ofender alguns
dos nossos leitores. Por outro, se não a publicarmos, ofenderemos um
número ainda maior dos nossos leitores, que querem que tomemos uma
posição contra o que esses ataques na França representaram", explicou o
editor-chefe do site australiano <news.com.au>, Daniel
Sankey.
Europa em massa publica capa do CharlieNa maioria dos países europeus,
jornais e sites reproduzem a capa do "Charlie". Na Grã-Bretanha, porém,
"The Independent" é o único dos grandes jornais a publicá-la em sua
versão impressa.
O jornal "The Guardian" reproduz a imagem em sua página online,
destacando que "o editorialista sobrevivente do semanário satírico
francês afirma que essa capa é um pedido de perdão aos terroristas que
assassinaram seus colegas na semana passada".
Já o "Daily Telegraph" optou por reduzir a reprodução para não expor a figura do profeta.
O vice-primeiro-ministro britânico, Nick Clegg, defendeu a disseminação
da capa do "Charlie" por ser, segundo ele, parte do "combate ideológico"
para manter uma sociedade livre.
Na Dinamarca, vários jornais publicaram a capa em suas versões online,
entre eles "Berlingske", "Politiken", "Information" e "Ekstra-Blade",
enquanto "Jyllands-Posten" preferiu não reproduzi-la. Foi esse último
que provocou a primeira grande polêmica mundial, ao divulgar uma série
de charges de Maomé em 2005. Desde então, tem tido uma postura mais
discreta sobre o tema.
Na Rússia, apenas o jornal "Kommersant" apresenta a capa do "Charlie".
Na Turquia, um país muçulmano, a imprensa descreve o novo número do
semanário satírico, mas não o exibe.
No Irã, o site de notícias "Tabnak" afirma que o Charlie "insulta mais uma vez o profeta".
"A onda de insultos contra as entidades sagradas do Islã, na qual esse
semanário teve um papel preponderante no passado, combinada com a
islamofobia, aumenta no Ocidente", denunciou.
Em 2006, o "Charlie Hebdo" publicou uma sequência de charges de Maomé, o
que resultou em protestos entre os muçulmanos e ameaças de morte ao
jornal.