O rombo causado pela corrupção nas contas da Petrobras poderá ser
ainda maior, caso surjam novas empresas e contratos suspeitos, admitiu
nesta quinta-feira (29) a presidente da estatal, Graça Foster.
A companhia também poderá ampliar o período sob investigação,
limitado entre janeiro de 2004 e abril de 2012, época em que Paulo
Roberto Costa era o diretor de abastecimento da estatal. Na avaliação da
presidente da empresa, com a evolução das investigações da Operação
Lava Jato, o volume de desvios estimados poderá ser superior aos R$ 4
bilhões já apurados pela companhia.
O valor se refere à aplicação da cobrança indevida de 3% nos
contratos, que seriam desviados para pagamento de propinas a
ex-funcionários, partidos e políticos – prática revelada por Costa em
depoimento ao Ministério Público. Ao todo, a companhia identificou 52
contratos firmados com 23 empresas citadas nas investigações da Polícia
Federal – que representam mais de R$ 188 bilhões em patrimônio da
companhia.
“Se tivermos mais depoimentos em que surjam outras empresas, esse
número cresce. Esse numero aqui não é firme e depende dos números de
empresas que estão sendo informadas pelo Ministério Público. Cresce o
número de empresas, cresce esse número”, afirmou a Graça Foster. “Novas
informações oriundas das investigações em curso podem causar novos
ajustes”, completou.
A Petrobras se baseou em depoimentos de envolvidos no esquema para
identificar os contratos e o período em que ocorreram os desvios. “O
período analisado não foi escolhido pela companhia, mas extraído dos
depoimentos recebidos como “prova emprestada” pela Petrobras”, frisou a
presidente da empresa.
Em 31 dos contratos, os valores registrados pela companhia estavam
“inflados” em R$ 88 bilhões em relação ao seu valor “justo” de mercado. A
diferença, segundo a empresa, corresponde a perdas com a corrupção,
deficiência em projetos, alterações de custos e outras “fragilidades”.
A companhia informou que 94% dos contratos suspeitos eram da
diretoria de Abastecimento, ocupada por Paulo Roberto Costa no período
investigado. Um dos contratos é o Complexo Petroquímico do Rio de
Janeiro (Comperj). Inicialmente orçado em US$ 6,5 bilhões, o projeto
teve o custo revisto para US$ 13,5 bilhões.
A Petrobras admitiu que, na avaliação de auditorias independentes, o
valor de mercado do complexo é zero, isto é, ele não teria capacidade de
gerar receitas suficientes para pagar seu custo.
“O objetivo do método (das consultorias) foi cumprido, que era
avaliar o valor do ativo. Agora as equipes vão mergulhar nos
empreendimentos individualmente para avaliar qual a perda com corrupção.
Vamos fazer uma limpeza dedicada em tudo o que tivermos que fazer para
ter uma avaliação correta para o patrimônio líquido”, concluiu Graça
Foster.
Estadão