Dia foi da posse das Juntas (PSOL) na Assembléia Legislativa de Pernambuco (Alepe), primeiro mandato coletivo declaradamente feminista, antirracista, anti lgbtfóbica
Atualmente é difícil ter algo para comemorar. E muito o que lamentar. Tristezas guardadas. Muita indignação esperando para se manifestar. Mas, neste primeiro dia de fevereiro, houve o que comemorar. Foi dia de festa e alegria, dia de posse das Juntas (PSOL) na Assembléia Legislativa de Pernambuco (Alepe). Primeira mandata coletiva declaradamente feminista, antirracista, anti lgbtfóbica e popular do Estado. As cinco mulheres foram encaminhadas e, no final da diplomação, recebidas de braços abertos pela batucada do Fórum de Mulheres de Pernambuco e todos/as aqueles/as que vieram para acompanhá-las e festejar dançando ao Som da Rural, às margens de um dos rios que cortam a cidade. E como não poderia deixar de ser, a lembrança de Marielle Franco acompanhou ato oficial e comemorações. Presente!!! É importante destacar quem são elas: a advogada trans Robeyoncé Lima, a jornalista Carol Vergolino, a estudante de letras Joelma Carla, a ambulante Jô Cavalcanti e a professora Kátia Cunha. Perfis e trajetórias diferentes que se somam para redimensionar possibilidades de atuação.
Nestes sábado e domingo Juntas estarão participando do Ocupa Política em Brasília, planejando ações conjuntas articuladas com 16 outros mandatos de sete estados do País. E, na próxima semana, haverá uma reunião no Recife para pensar este primeiro ano da legislatura e estratégias para assumirem a comissão de Direitos Humanos da Alepe. Elas atuarão acompanhadas de um conselho político formado por movimentos sociais. Como afirmam Sophia Branco e Jéssica Barbosa** “é uma tentativa radical de sabotagem das velhas estruturas do sistema político e também uma tentativa de quebra do personalismo e da hierarquia que tanto marcam a política tradicional”. É certo que em outros estados e no parlamento nacional também existem motivos para comemorações. Há mandatos que serão de resistência em meio ao conservadorismo e mediocridade que nos assola. Eles trazem esperança para novas formas de fazer política, oxigenação para o que está aí posto com a presença preponderante do chamado “baixo clero”.
No dia das posses, houve brilho a iluminar este cenário sombrio. Em Pernambuco, destacou-se também a Tereza Leitão (PT). Ela que se apresentou para a diplomação vestida de vermelho, a cor do seu partido. Não pude deixar de pensar que essa é também uma cor associada às mulheres de vida pública, ali re-significada pelo lugar que as mulheres ocupam hoje no cenário político com a força e a determinação de uma Tereza. Foi uma presença forte e bonita, ovacionada. Tereza Leitão tem uma longa trajetória dedicada à defesa da educação pública e ao diálogo aberto com os movimentos sociais. Ao contrário de diplomados/as que a antecederam e seguiram, ela estava sozinha. Os/as outros/as levaram sempre alguém da família, numa atitude que dá corpo ao que presenciamos de voz na vergonhosa votação do impeachment da presidenta Dilma Roussef: o simbólico e o concreto da privatização dos mandatos. Triste! Serão minoria as representações dignas de alegria. Sabe-se que não vai ser nada fácil porque a oposição poderá ser dura dentro das casas legislativas. Não só pelas pautas que defendem, mas porque deve haver muito interesse em demonstrar que esta é uma experiência, a dos mandatos coletivos, que não dá certo. Um desafio a mais ao de construir e dar forma para esta novidade democrática que já vem sendo experimentada, caso das MUITAS com mandato e gabinete compartilhados, em Minas Gerais.
Gostaria de citar outros exemplos, como o da novata Joênia Wapichana (Rede), a primeira deputada indígena eleita para a Câmara dos Deputados. Joênia tem aberto caminhos. Foi também a primeira indígena a se formar em direito pela Universidade Federal de Roraima e fez mestrado na Universidade do Arizona-EUA. Num momento em que os direitos e a vida das populações indígenas estão seriamente ameaçados, são grandes as expectativas que recaem sobre ela. E ainda daquelas com longa trajetória, como Luíza Erundina (PSOL). Luíza comemorou mais um mandato nos corredores do Congresso Nacional fazendo um microfone-humano, no qual propagou a sua voz e compromissos, com as pessoas em torno fazendo coro. Um modo de expressão que tem sido muito comum nas recentes manifestações feministas. Paraibana, é o Nordeste que faz São Paulo ser melhor, inclusive na sua atual bancada.

Nos últimos dias o fato de Jean Wyllys ter declinado do resultado das urnas, optando sair do país para preservar a própria vida, gerou muitos comentários. Foi em busca de segurança e felicidade, o que merece. Ele sabia que quem assumiria em seu lugar promete também um mandato posicionado e combativo: David Miranda (PSOL).
Renovação e continuidade, nesses casos, se reforçarão. O desafio para os movimentos sociais é acompanhar de perto, pressionar e apoiar parlamentares que podem fazer a diferença.
* Carla Gisele Batista é historiadora, pesquisadora, educadora e feminista desde a década de 1990. Graduou-se em Licenciatura em História pela Universidade Federal de Pernambuco (1992) e fez mestrado em Estudos Interdisciplinares Sobre Mulheres, Gênero e Feminismo pela Universidade Federal da Bahia (2012). Atuou profissionalmente na organização SOS Corpo Instituto Feminista para a Democracia (1993 a 2009), como assessora da Secretaria Estadual de Política para Mulheres do estado da Bahia (2013) e como instrutora do Conselho dos Direitos das Mulheres de Cachoeira do Sul/RS (2015). Como militante, integrou as coordenações do Fórum de Mulheres de Pernambuco, da Articulação de Mulheres Brasileiras e da Articulación Feminista Marcosur. Integrou também o Comitê Latino Americano e do Caribe de Defesa dos Direitos das Mulheres (Cladem/Brasil). Já publicou textos em veículos como Justificando, Correio da Bahia, O Povo (de Cachoeira do Sul).
FONTE: FOLHA PE
Nestes sábado e domingo Juntas estarão participando do Ocupa Política em Brasília, planejando ações conjuntas articuladas com 16 outros mandatos de sete estados do País. E, na próxima semana, haverá uma reunião no Recife para pensar este primeiro ano da legislatura e estratégias para assumirem a comissão de Direitos Humanos da Alepe. Elas atuarão acompanhadas de um conselho político formado por movimentos sociais. Como afirmam Sophia Branco e Jéssica Barbosa** “é uma tentativa radical de sabotagem das velhas estruturas do sistema político e também uma tentativa de quebra do personalismo e da hierarquia que tanto marcam a política tradicional”. É certo que em outros estados e no parlamento nacional também existem motivos para comemorações. Há mandatos que serão de resistência em meio ao conservadorismo e mediocridade que nos assola. Eles trazem esperança para novas formas de fazer política, oxigenação para o que está aí posto com a presença preponderante do chamado “baixo clero”.
No dia das posses, houve brilho a iluminar este cenário sombrio. Em Pernambuco, destacou-se também a Tereza Leitão (PT). Ela que se apresentou para a diplomação vestida de vermelho, a cor do seu partido. Não pude deixar de pensar que essa é também uma cor associada às mulheres de vida pública, ali re-significada pelo lugar que as mulheres ocupam hoje no cenário político com a força e a determinação de uma Tereza. Foi uma presença forte e bonita, ovacionada. Tereza Leitão tem uma longa trajetória dedicada à defesa da educação pública e ao diálogo aberto com os movimentos sociais. Ao contrário de diplomados/as que a antecederam e seguiram, ela estava sozinha. Os/as outros/as levaram sempre alguém da família, numa atitude que dá corpo ao que presenciamos de voz na vergonhosa votação do impeachment da presidenta Dilma Roussef: o simbólico e o concreto da privatização dos mandatos. Triste! Serão minoria as representações dignas de alegria. Sabe-se que não vai ser nada fácil porque a oposição poderá ser dura dentro das casas legislativas. Não só pelas pautas que defendem, mas porque deve haver muito interesse em demonstrar que esta é uma experiência, a dos mandatos coletivos, que não dá certo. Um desafio a mais ao de construir e dar forma para esta novidade democrática que já vem sendo experimentada, caso das MUITAS com mandato e gabinete compartilhados, em Minas Gerais.
Gostaria de citar outros exemplos, como o da novata Joênia Wapichana (Rede), a primeira deputada indígena eleita para a Câmara dos Deputados. Joênia tem aberto caminhos. Foi também a primeira indígena a se formar em direito pela Universidade Federal de Roraima e fez mestrado na Universidade do Arizona-EUA. Num momento em que os direitos e a vida das populações indígenas estão seriamente ameaçados, são grandes as expectativas que recaem sobre ela. E ainda daquelas com longa trajetória, como Luíza Erundina (PSOL). Luíza comemorou mais um mandato nos corredores do Congresso Nacional fazendo um microfone-humano, no qual propagou a sua voz e compromissos, com as pessoas em torno fazendo coro. Um modo de expressão que tem sido muito comum nas recentes manifestações feministas. Paraibana, é o Nordeste que faz São Paulo ser melhor, inclusive na sua atual bancada.

Nos últimos dias o fato de Jean Wyllys ter declinado do resultado das urnas, optando sair do país para preservar a própria vida, gerou muitos comentários. Foi em busca de segurança e felicidade, o que merece. Ele sabia que quem assumiria em seu lugar promete também um mandato posicionado e combativo: David Miranda (PSOL).
Renovação e continuidade, nesses casos, se reforçarão. O desafio para os movimentos sociais é acompanhar de perto, pressionar e apoiar parlamentares que podem fazer a diferença.
* Carla Gisele Batista é historiadora, pesquisadora, educadora e feminista desde a década de 1990. Graduou-se em Licenciatura em História pela Universidade Federal de Pernambuco (1992) e fez mestrado em Estudos Interdisciplinares Sobre Mulheres, Gênero e Feminismo pela Universidade Federal da Bahia (2012). Atuou profissionalmente na organização SOS Corpo Instituto Feminista para a Democracia (1993 a 2009), como assessora da Secretaria Estadual de Política para Mulheres do estado da Bahia (2013) e como instrutora do Conselho dos Direitos das Mulheres de Cachoeira do Sul/RS (2015). Como militante, integrou as coordenações do Fórum de Mulheres de Pernambuco, da Articulação de Mulheres Brasileiras e da Articulación Feminista Marcosur. Integrou também o Comitê Latino Americano e do Caribe de Defesa dos Direitos das Mulheres (Cladem/Brasil). Já publicou textos em veículos como Justificando, Correio da Bahia, O Povo (de Cachoeira do Sul).
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