'Como se eu estivesse dentro de uma máquina de lavar', diz sobrevivente de deslizamento de barreira no Recife


"Eu já vi aquilo me embolando, como se eu estivesse dentro de uma máquina de lavar. E aquilo me sacudindo, me levando, me levando, e eu dizia: 'Deus, não deixa eu morrer, não deixa eu perecer". Esse relato é da manicure Joyce Gomes, sobrevivente de um deslizamento de barreira ocorrido no dia 28 de maio na Vila dos Milagres, na Zona Oeste do Recife.

O desastre causado pela forte chuva em Pernambuco deixou 129 mortos. O último óbito registrado foi de um adolescente de 13 anos, na terça-feira (7), o 16º dia do temporal no Recife. Joyce foi uma das mais de 128 mil pessoas que perderam as casas por causa da tragédia.

A manicure foi resgatada em meio às montanhas de barro que engoliram a casa dela. Joyce ficou com a mão esquerda para fora da lama e, através dela, pediu socorro, sendo encontrada por vizinhos.

As feridas pelo corpo são inúmeras, além do trauma causado pela pior tragédia do século 21 em Pernambuco. Depois de sair do hospital, sem casa para onde voltar, Joyce se mudou para a residência da mãe, no bairro dos Coelhos, na região central do Recife.

"Em momento nenhum eu perdi os sentidos, mas ali eu clamava. Eu dizia 'Deus, se eu ficar embaixo, eu vou perecer, eu não vou aguentar'. E ali, quando eu parei, eu estava só com uma mão de fora, os olhos cheios de barro", disse a vítima.

A rotina dela, agora, envolve inúmeros medicamentos, curativos, pomadas, fraldas descartáveis e outros insumos para tentar recuperar o corpo daquilo que a memória jamais vai esquecer. A irmã dela, a auxiliar de enfermagem Rosicléa Gomes, largou tudo para cuidar de Joyce.

"Está saindo muita secreção das escoriações, aí eu tenho que estar limpando sempre, ter aquele cuidado. Porque, se fosse no hospital, ela ia ter um curativo por dia, mas, pela proporção das escoriações que ela está, não tem condições de só fazer um curativo por dia", afirmou Rosicléa.

Os materiais para os curativos, feitos várias vezes por dia, têm sido doados por pessoas que se solidarizaram por Joyce. Entretanto, nada ameniza a dor na alma que ela sente.

"Meu marido pereceu e eu ali, angustiada duas vezes, porque eu queria ver ele. Saí de lá e os meninos procuraram ele. Quando acharam, ele estava com o rosto deformado", contou Joyce.

A dura recuperação só não é mais difícil do que a dor das lembranças de uma tragédia que poderia ser evitada.

"A gente elege vereador, governador, presidente, para ele cuidar e ele olhar melhor para a gente, mas, infelizmente, nos dias de hoje, não é assim, dessa forma. Eu não sei nem como dizer que eu vou começar", afirmou Joyce.



Fonte: G1




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